A metodologia do Big Five é uma das mais importantes no campo da psicologia organizacional. E certamente uma das mais renomadas. É com ela que estudiosos e acadêmicos vêm descrevendo traços de personalidade de inúmeros indivíduos. Sempre pautados em ciência e evidências concretas.
Mas você sabe do que se trata essa metodologia? Sabe por que ela é importante e como ela se aplica ao RH? É disso que falaremos neste texto.
- O que é o Big Five?
- Um pouco de história: os antecedentes do Big Five
- Os cinco fatores do Big Five
- Estabilidade das Características
- O que influencia os traços de personalidade?
- Big Five e DISC
- Big Five e o Teste de Personalidade
1. O que é o Big Five?
O Modelo dos Cinco Grandes (em inglês, “Big Five”), também conhecido como Modelo dos Cinco Fatores (MCF) ou fatores globais de personalidade, é a teoria da personalidade mais amplamente aceita pelos psicólogos nos dias de hoje.
A teoria afirma que a personalidade pode ser “reduzida” a cinco fatores principais, conhecidos pela sigla OCEAN (“oceano”):
O – openness to Experience (Abertura à Experiência): prefere rotina, prática vs. imaginativa, espontânea;
C – conscientiousness (conscienciosidade): impulsivo, desorganizado vs. disciplinado, cuidadoso;
E – extraversion (Extroversão): reservado, atencioso vs. sociável, amante da diversão;
A – agreeableness (Agradabilidade): suspeito, não cooperativo vs. confiante, útil;
N – neuroticism (Neuroticismo): ansioso, pessimista vs. calmo, confiante.
É muito comum ver esses cinco fatores aparecendo num diagrama, como mostrado abaixo. Nele, você percebe a influência que os fatores exercem sobre a personalidade do indivíduo.
Ao contrário de outras teorias de personalidades que classificam os indivíduos em categorias binárias (ou seja, introvertidos ou extrovertidos), o Big Five afirma que cada traço de personalidade é um espectro, com muitas nuances. Portanto, os indivíduos são classificados em uma escala entre as duas extremidades.
Por exemplo, ao medir Extroversão, a pessoa não seria classificada como puramente extrovertida ou introvertida, mas colocada em uma escala que determinasse seu nível de extroversão.
Ao classificar os indivíduos em cada uma dessas características, é possível medir com eficácia as diferenças individuais da personalidade.
2. Um pouco de história: os antecedentes do Big Five
O modelo do Big Five resultou das contribuições de muitos pesquisadores independentes. Vamos citar alguns deles aqui, para que você saiba de quem estamos falando, e quais fontes você deve buscar caso queira se aprofundar.
Gordon Allport e Henry Odbert formaram pela primeira vez uma lista de 4.500 termos relacionados a traços de personalidade em 1936. Esse trabalho forneceu a base para outros psicólogos começarem a determinar as dimensões básicas da personalidade.
Na década de 1940, Raymond Cattell e seus colegas usaram a análise fatorial (um método estatístico) para reduzir a lista de Allport a dezesseis características.
No entanto, vários psicólogos examinaram a lista de Cattell e descobriram que ela poderia ser reduzida a cinco características. Entre esses psicólogos estavam Donald Fiske, Norman, neste artigo.
Em particular, Lewis Goldberg defendeu fortemente cinco fatores primários de personalidade. Seu trabalho foi expandido por McCrae & Costa, que confirmaram a validade do modelo e forneceram o modelo usado hoje: consciência, amabilidade, neuroticismo, abertura à experiência e extroversão.
O modelo ficou conhecido como “Big Five” e tem recebido muita atenção desde então. Esse modelo foi pesquisado em muitas populações e culturas, e continua a ser a teoria de personalidade mais aceita hoje.
As categorias são bem amplas
Cada um dos cinco fatores do Big Five representa categorias extremamente amplas, que abrangem muitos termos relacionados à personalidade. Cada característica contém uma infinidade de outras facetas.
Segundo os professores John & Srivastava, que contribuíram ativamente para consolidação do modelo Big Five:
Por exemplo, o traço de Extroversão é uma categoria que contém rótulos como Gregário (sociável), Assertividade (forte), Atividade (energética), Busca de Excitação (aventureiro), Emoções positivas (entusiasmado) e Calor (extrovertido).
Portanto, ainda que não esgote todas as possibilidades, o Big Five cobre virtualmente todos os termos relacionados à personalidade.
Outro aspecto importante do Big Five é sua abordagem para medir a personalidade. Ele se concentra em conceituar características como um espectro, em vez de categorias em preto e branco. Ele reconhece que a maioria dos indivíduos não está nas extremidades polares do espectro, mas sim em algum lugar no meio.
3. Os cinco fatores do Big Five
Vamos então destrinchar cada um desses fatores para que você possa entendê-los mais a fundo.
Conscienciosidade
A consciência descreve a capacidade de uma pessoa de regular seu controle de impulso a fim de se envolver em comportamentos direcionados a um objetivo (Grohol, 2019). Ele mede elementos como controle, inibição e persistência de comportamento.
Todas as tabelas mostradas aqui fazem parte do estudo publicado em 1999 por dois grandes professores da Universidade da Califórnia. As facetas da conscienciosidade incluem:
ALTO Competência Organização Obediência Esforço de conquista Autodisciplina Deliberação |
BAIXO Incompetência Desorganização Sem cuidado Procrastinação Indisciplina Impulsividade |
- Consciência vs. Falta de Direção
Aqueles que pontuam alto em conscienciosidade podem ser descritos como organizados, disciplinados, detalhistas, atenciosos e cuidadosos. Eles também têm um bom controle de impulso, o que lhes permite completar tarefas e atingir objetivos.
Aqueles que têm pontuação baixa podem ter dificuldades para controlar os impulsos, dificultando a realização de tarefas e objetivos.
Eles tendem a ser mais desorganizados e podem não gostar de muitas estruturas. Eles também podem se envolver em um comportamento mais impulsivo e descuidado.
Agradabilidade
Amabilidade se refere a como as pessoas tendem a tratar os relacionamentos com outras pessoas. Ao contrário da extroversão, que consiste na busca de relacionamentos, a amabilidade se concentra na orientação das pessoas e nas interações com outras (Ackerman, 2017).
As facetas dela incluem:
ALTO Confiar (perdoar) Franqueza Altruísmo (gosta de ajudar) Observância Modéstia Simpático Empatia |
BAIXO Cético Exigente Insulta e menospreza os outros Teimoso Mostrar Antipático Não se importa com o que as outras pessoas sentem |
- Amabilidade vs. Antagonismo
Aqueles que são muito agradáveis podem ser descritos como de coração mole, confiantes e queridos. Eles são sensíveis às necessidades dos outros e são prestativos e cooperativos. As pessoas os consideram confiáveis e altruístas.
Aqueles com baixa amabilidade podem ser percebidos como suspeitos, manipuladores e não cooperativos. Eles podem ser antagônicos ao interagir com outras pessoas, o que os torna menos propensos a serem queridos e confiáveis.
Extroversão
A extroversão reflete a tendência e intensidade com que alguém busca a interação com seu ambiente, principalmente socialmente. Abrange os níveis de conforto e assertividade das pessoas em situações sociais. Além disso, também reflete as fontes das quais alguém retira energia.
As facetas incluem:
ALTO Sociável Energizado pela interação social Em busca de excitação Gosta de ser o centro das atenções Extrovertido |
BAIXO Prefere a solidão Cansado de muita interação social Reflexivo Não gosta de ser o centro das atenções Reservado |
- Extroversão vs. Introversão
Aqueles que estão no alto da extroversão são geralmente assertivos, sociáveis e amantes da diversão. Eles prosperam em situações sociais e se sentem confortáveis para expressar suas opiniões. Eles tendem a ganhar energia e ficar animados por estarem perto de outras pessoas.
Aqueles com pontuação baixa são frequentemente chamados de introvertidos. Essas pessoas tendem a ser mais reservadas e mais caladas. Eles preferem ouvir os outros em vez de precisar ser ouvidos.
Os introvertidos geralmente precisam de períodos de solidão para recuperar as energias, pois participar de eventos sociais pode ser muito cansativo para eles. É importante notar que os introvertidos não necessariamente não gostam de eventos sociais, mas os consideram cansativos.
Abertura à Experiência
A abertura para a experiência refere-se à vontade de tentar coisas novas, bem como de se envolver em atividades imaginativas e intelectuais. Inclui a capacidade de “pensar fora da caixa”.
As facetas de abertura incluem:
ALTO Curioso Imaginativo Criativo Aberto a experimentar coisas novas Não convencional |
BAIXO Previsível Não muito imaginativo Não gosta de mudança Prefira rotina Tradicional |
- Abertura vs. Fechamento para a Experiência
Aqueles que pontuam alto em abertura à experiência são vistos como criativos e artísticos. Eles preferem variedade e valorizam a independência. São curiosos sobre o que os rodeia e gostam de viajar e aprender coisas novas.
Pessoas com baixa pontuação em abertura à experiência preferem a rotina. Eles se sentem desconfortáveis com mudanças e tentando coisas novas, então preferem o familiar ao desconhecido. Como são pessoas práticas, muitas vezes têm dificuldade em pensar de forma criativa ou de forma abstrata.
Neuroticismo
O neuroticismo descreve a estabilidade emocional geral de um indivíduo por meio de como eles percebem o mundo. Ele leva em consideração a probabilidade de uma pessoa interpretar os eventos como ameaçadores ou difíceis. Também inclui a propensão de experimentar emoções negativas.
As facetas do neuroticismo incluem:
ALTO Ansioso Hostilidade com raiva (irritável) Experimenta muito estresse Autoconsciência (tímido) Vulnerabilidade Experimenta mudanças dramáticas de humor |
BAIXO Não se preocupa muito Calma Emocionalmente estável Confiante Resiliente Raramente se sente triste ou deprimido |
- Neuroticismo vs. Estabilidade Emocional
Aqueles que têm pontuação alta em neuroticismo geralmente se sentem ansiosos, inseguros e com pena de si mesmos. Frequentemente, são vistos como temperamentais e irritáveis. São propensos a certa tristeza e baixa autoestima.
Aqueles com pontuação baixa são mais propensos a se acalmar, se sentirem seguros e satisfeitos. É menos provável que sejam percebidos como ansiosos ou mal-humorados. Eles são mais propensos a ter boa autoestima e permanecer resilientes.
4. Estabilidade das Características
As pontuações do Big Five das pessoas permanecem relativamente estáveis durante a maior parte de suas vidas, com algumas pequenas mudanças desde a infância até a idade adulta. Um estudo de Soto e John (2012) tentou rastrear as tendências de desenvolvimento dos cinco grandes traços.
Eles descobriram que a gentileza e a consciência gerais aumentavam com a idade. Não houve tendência significativa para extroversão geral, embora o gregarismo diminuiu e a assertividade aumentou.
A abertura à experiência e ao neuroticismo diminuiu ligeiramente da adolescência até a idade adulta média. Os pesquisadores concluíram que havia tendências mais significativas em facetas específicas (ou seja, aventura e depressão), em vez de nas cinco características gerais.
5. Influências o Big Five
Como todas as teorias da personalidade, os fatores do Big Five são influenciados tanto pela natureza quanto pela criação.
Genética
Estudos com gêmeos descobriram que a herdabilidade (a quantidade de variância que pode ser atribuída aos genes) das cinco características principais é de 40-60%.
Foi conduzido um estudo com 123 pares de gêmeos idênticos e 127 pares de gêmeos fraternos. Eles estimaram a herdabilidade de conscienciosidade, afabilidade, neuroticismo, abertura à experiência e extroversão em 44%, 41%, 41%, 61% e 53%, respectivamente.
Este achado foi semelhante aos achados de outro estudo, onde a herdabilidade de conscienciosidade, afabilidade, neuroticismo, abertura à experiência e extroversão foi estimada em 49%, 48%, 49%, 48% e 50%, respectivamente.
Esses estudos com gêmeos demonstram que os traços de personalidade do Big Five são significativamente influenciados pelos genes e que todos os cinco traços são igualmente hereditários. A herdabilidade para machos e fêmeas não parece diferir significativamente.
Diferenças de gênero
Foram observadas diferenças nos cinco fatores do Big Five entre os gêneros, mas essas diferenças são pequenas em comparação com as diferenças entre indivíduos do mesmo gênero.
Costa et al. (2001) reuniram dados de mais de 23 mil homens e mulheres em 26 países. Eles descobriram que “as diferenças de gênero são modestas em magnitude, consistentes com os estereótipos de gênero e replicáveis entre as culturas”.
As mulheres relataram ser mais elevadas em Neuroticismo, Amabilidade, Calor (uma faceta da Extroversão) e Abertura aos Sentimentos em comparação com os homens. Os homens relataram ser mais elevados em Assertividade (uma faceta da Extroversão) e Abertura às Ideias.
Outra descoberta interessante foi que diferenças maiores de gênero foram relatadas em países ocidentais industrializados. Os pesquisadores propuseram que a razão mais plausível para essa descoberta eram os processos de atribuição.
Eles presumiram que as ações das mulheres em países individualistas teriam mais probabilidade de ser atribuídas à personalidade dela, ao passo que as ações das mulheres em países coletivistas teriam mais probabilidade de ser atribuídas ao cumprimento das normas de papéis de gênero.
6. Big Five e DISC: qual a diferença entre eles?
Você deve imaginar que não há apenas um tipo de metodologia, não é? Se imaginou assim, acertou! Além do Big Five, o DISC também é uma das metodologias mais conhecidas.
O DISC é uma ferramenta desenvolvida com base na teoria do psicólogo americano William Moulton Marston. A sigla representa quatro dimensões principais do comportamento: Dominância (Dominance), Influência (Influence), Estabilidade (Steadiness) e Complacência (Compliance). Cada uma dessas dimensões analisa aspectos específicos do comportamento e das preferências do indivíduo:
- Dominância – como ele lida com problemas e desafios;
- Influência – de que forma ele consegue influenciar as pessoas e ser influenciado;
- Estabilidade – como o candidato lida com mudanças;
- Complacência – de que forma ele se adequa às regras.
E qual as diferenças entre elas?
Do ponto de vista das medições, o Big Five tem foco nas características individuais, sendo ideal para avaliar a aptidão para relacionamentos, negócios e comunicação.
Já o DISC é usado de forma mais abrangente, trazendo uma visão geral e mais generalista. Isso torna sua aplicação mais prática.
O DISC analisa estilos comportamentais e como as pessoas preferem se comunicar e agir. Em termos de profundidade, ele é simples e direto, mas possui uma base menor de pesquisas para embasá-lo. Já o Big Five promove uma visão mais aprofundada, o que possibilita uma maior compreensão de cada pessoa.
7. Big Five e o teste de personalidade
Por fim, nada melhor do que pegar esse conhecimento todo e aplicar na prática, certo? Afinal, o melhor conhecimento é aquele que pode ser aplicado — e é aplicado!
A metodologia Big Five serve para mapear traços de personalidade dos indivíduos analisados. Portanto, é possível usá-la para estruturar testes de personalidade usados no processo de recrutamento e seleção.
Pensando nisso, a Mindsight aproveitou todo o conhecimento de especialistas para criar o mais robusto teste de personalidade do mercado.
Quer saber como ele funciona? Então assista ao vídeo abaixo, no qual explicamos detalhadamente quais fatores são mapeados no nosso teste e como o mapeamento é feito.
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