Como vieses comportamentais afetam uma gestão remota?

A gestão remota, impulsionada pela pandemia de Covid-19, trouxe inúmeros desafios aos líderes e profissionais de RH. Podemos dizer que a maioria dos gestores não estava completamente preparada para liderar remotamente suas equipes.

Mas como tudo se adapta no mundo, é esperado que eles também possam adentrar nesse esquema e conseguir extrair o máximo da situação.

Diversidade e inclusão

Os gestores devem levar em conta a ciência comportamental para garantir a eficiência na sua gestão remota. E, portanto, devem evitar certos tipos de obstáculos e vieses que podem prejudicar a fluidez e a lisura dos processos.

Dessa forma, este post traz uma lista com alguns dos vieses mais comuns que líderes devem observar. E, à medida do possível, impedir que elas se façam presentes numa gestão remota. Além disso, mostraremos também algumas táticas cientificamente comprovadas para neutralizá-las.

  1. Gestão remota em tempos de pandemia
  2. Viés de confirmação
  3. Viés de atribuição
  4. Groupthink
  5. Efeito de homogeneidade endogrupo
  6. Regra do Pico-Fim
  7. Não deixe os vieses prejudicarem sua gestão remota

1. Gestão remota em tempos de pandemia

Sistemas de gestão remota

A pandemia de Covid-19 foi um divisor de águas para o mundo corporativo. Da noite para o dia, nos vimos obrigados a mudar completamente nossos hábitos de trabalho. Tronou-se praticamente impossível permanecer no escritório compartilhando o mesmo espaço fechado com outras pessoas.

Assim, fomos obrigados a migrar para as nossas casas — e nos adaptar às novas condições de trabalho remoto. E isso trouxe imensos desafios tanto para o “trabalhador comum” quanto para os gestores. Afinal, se é desafiador desempenhar uma função fora do ambiente a que estamos acostumados, não é menos complexo gerenciar times estando longe de seus membros.

No local de trabalho, os funcionários costumam recorrer a seus superiores. E se já é difícil para os gestores corresponderem a todas as expectativas da organização, imagine numa gestão remota! Essa é uma tarefa uma para a qual poucos líderes foram devidamente preparados, sobretudo quando a pandemia chegou.

É mais difícil entender o contexto em que os colegas trabalham e vivem, bem como os desafios que podem enfrentar, quando você não os vê pessoalmente. Tudo isso aumenta a probabilidade de mal-entendidos e pode sobrecarregar ainda mais as relações da equipe.

Vieses

Pesquisas em ciências comportamentais mostram que tendemos a simplificar decisões complexas usando “regras práticas” quando enfrentamos situações incertas.

Há até um termo pomposo para esse tipo de decisão: heurística. Ou seja, o vício de encontrar soluções simples para problemas complexos. Pode funcionar? Pode, mas é comum a incidência de variadas imprecisões.

Isso porque, embora esses atalhos nos permitam trabalhar com eficiência mesmo em face da complexidade, eles podem rapidamente se tornar a fonte de erros sistemáticos e às vezes inconscientes em nosso julgamento. Esses erros são conhecidos como vieses.

Ou seja, são aqueles preconceitos e vieses inconscientes já estabelecidos e difíceis de mudar. E num ambiente de trabalho remoto, eles podem ser ainda mais nocivos.

Aplicando uma perspectiva da ciência comportamental, vamos dar uma olhada em cinco dos mais importantes vieses que os líderes devem observar ao trabalhar e gerenciar remotamente, além de uma seleção de táticas conhecidas e cientificamente comprovadas para neutralizar esses equívocos neste novo contexto.

2. Viés de confirmação

A vida no escritório acaba fornecendo maiores oportunidades para conectar as pessoas e compartilhas as ideias de maneira mais orgânica. Tanto entre colegas de equipe quanto entre os diferentes departamentos da empresa.

Sem dúvidas, é um caminho rápido e direto — afinal, basta apenas se levantar da cadeira e ir até a baia daquele com quem você deseja trocar informações.

O presencial também facilita a emissão e o recebimento de feedbacks mais espontâneos. Assim como no caso anterior, basta você conversar diretamente com a pessoa e dizer o que pensa sobre determinada ação ou atividade realizada por ela.

(Nesse caso, estamos nos referindo especificamente a feedbacks mais naturais e abertos, mas ressaltamos a imensa importância de um sistema organizado e estruturado para feedbacks mais formais.)

Porém, em um cenário de home office e gestão remota, há um claro limite para trocas e solicitações dessas devoluções menos formais. Afinal, estando de casa e sem o contato pessoal com os colegas de trabalho, fica mais complicado emitir opiniões certas pontos de vista interessantes sobre determinada questão.

E a necessidade de agendar “mais uma reunião ou chamada” no Microsoft Teams pode nos dissuadir da ideia de solicitar feedback.

Assim, ao trabalhar e interagir remotamente, as pessoas têm maior probabilidade de confiar em seu próprio julgamento. Como não há um contraponto imediato, temos a tendência de ignorar a análise crítica que o gestor ou nossos colegas fazem do nosso trabalho. Às vezes, nem queremos mais ouvi-la! — o que é um erro bastante prejudicial ao bom andamento dos trabalhos da equipe.

Esse comportamento é chamado de viés de confirmação. Isto é, o comportamento retroalimentado de buscar e interpretar informações que confirmem nossas crenças e valores. Se ele não for devidamente contido, vai aumentando com o passar do tempo.

Como combater este viés?

E a consequência é grave: haverá menos exposição a diferentes ideias e perspectivas, fazendo crescer o risco de decisões menos assertivas.

  • Convoque os membros da equipe para analisar individualmente suas decisões e pontos de vista. É importante deixá-los falar primeiro antes de revelar suas prioridades e motivações.
  • Leve todas as informações em consideração. Os colaboradores gostam de se sentir ouvidos e, além disso, podem contribuir bastante no levantamento de pontos críticos, mesmo que isso acabe prolongando o processo de tomada de decisão.
  • Analise e reanalise as perspectivas da equipe, no intuito de testar a força da sua argumentação. Isso promove o pensamento crítico dentro da equipe e propaga a ideia que as as decisões devem ser embasadas.

3. Viés de atribuição

Ferramentas de gestão remota

Um segundo tipo de comportamento enviesado que pode atrapalhar a gestão remota é o chamado viés de atribuição. Ele foca na dificuldade encontrada em por colaboradores em home office quanto à interação.

O pouco contato entre eles dificulta o entendimento das situações individuais de cada membro da equipe. Como não estão presentes num mesmo lugar e nem sempre estão alinhados no mesmo assunto do dia, alguns sinais importantes acabam passando despercebidos.

No entanto, nosso cérebro é bem rápido para compensar a falta de informações e tirar conclusões precipitadas sobre o comportamento de outras pessoas.

E é aí que entra o viés de confirmação — ou seja, nossa tendência de vincular os comportamentos das pessoas aos traços do seu caráter, em vez de compreender as influências das situações e dos momentos pelos quais passam.

Não estar atentos a um conjunto específico de circunstâncias em que outras pessoas podem se encontrar (como uma condição médica ou um problema pessoal) pode nos tornar menos tolerantes e mais propensos a tirar conclusões precipitadas.

Como combater este viés?

  • Vá mais devagar, verifique suas evidências e reflita. Não presuma que “tal ação” foi feita com “tal (má) intenção”. Considere a possibilidade de estar fazendo um julgamento equivocado e fazendo atribuições falsas.
  • Lembre-se dos comportamentos que você já teve. Será que aquele comportamento que você hoje critica no seu colega não seja parecido com algo que você mesmo já fez num passado não tão distante? Agir com empatia e paciência em determinados casos vai te ajudar bastante a não cometer julgamentos despropositados.
  • Tente entender as motivações/explicações por trás daquele comportamento. Isso é importante porque assim você poderá mapear se é algo representativo do colega avaliado ou se algo puramente esporádico.

4. Groupthink

Fazer reuniões constantes é um recurso indispensável para quem está trabalhando remotamente. Não há como se inteirar das novidades da equipe e da organização como um todo sem uma agenda de encontros virtuais com os times.

Porém, em reuniões com muitos participantes, a atenção acaba se dispersando. Se isso já é comum no escritório, imagina em casa!

Assim, uma gestão remota eficiente deve se atentar ao que acontece na tela a fim de identificar informações importantes. Observar as conversas e os comportamentos dos membros é algo que já faz parte do dia a dia corporativo de qualquer gestor.

Devemos observar sobretudo como alguns colaboradores se comportam em grupo. Porque nem todo mundo tem características extrovertidas e gosta de falar em grupo. E isso não é nenhum demérito — afinal, nem todas as funções requerem esse tipo de comportamento.

E, de modo geral, a presença de muitos participantes numa mesma reunião acaba por “inibir” a iniciativa de falar, expressar críticas ou questionar certas decisões — mesmo de colaboradores mais participativos!

Consequentemente, isso aumenta o risco de um fenômeno que chamamos de groupthink (em português, “pensamento grupal”). É quando o desejo de evitar conflitos no grupo condiciona o pensamento individual dos membros, levando-os a optarem por uma decisão disfuncional.

Em geral, quanto mais pessoas há em uma reunião, mais ela é dominada por alguns indivíduos. Quanto mais homogênea for a equipe e mais exaustiva for a experiência da reunião virtual, maior o risco de groupthink.

Como combater este viés?

  • Escolha um grupo pequeno e heterogêneo e atribua funções e responsabilidades claras para cada um. Isso fará com que haja direcionamento quando se precisar tomar uma decisão importante para a equipe. Lembre-se a importância da diversidade de pensamentos e posições dentro da equipe.
  • Incentive o debate de ideias. Para alguns casos mais delicados, vale pensar até na possibilidade de participação anônima. Assim, será possível receber feedbacks mais independentes do assunto tratado nas reuniões.
  • Garanta variedade em palestrantes e de tópicos. É sempre interessante permitir apresentações de diferentes tipos de colaboradores — inclusive de diferentes áreas e funções. Há sempre pontos específicos e perspectivas que somente aqueles que desempenham determinada função podem contemplar.
  • Faça uso inteligente de ferramentas de colaboração remota. Por exemplo, primeiro encorajando diálogos críticos antes de compartilhar ideias com toda a equipe. Isso pode criar espaços mais seguros onde os membros da equipe se sintam mais à vontade para falar. Esse tipo de ferramenta pode te ajudar bastante no objetivo almejado.

5. Efeito de homogeneidade endogrupo

Gestão remota e vieses

O nome pode soar feio, mas o significado é simples. O termo endogrupo significa “dentro do grupo” — em oposição a exogrupo, ou seja, “fora do grupo”. Esses conceitos foram criados para mapear o papel da identidade nas relações intergrupais.

Em um ambiente predominantemente virtual, pode ser mais difícil para novos colegas se instalarem em sua equipe. A distância física reduz a exposição às pessoas, limita as oportunidades de trocas espontâneas e informais e diminui a comunicação em toda a organização.

Parece algo ruim? Mas saiba que a produtividade no trabalho remoto aumentou em relação ao trabalho presencial. Quer saber mais? Então acesse este conteúdo e entenda!

No fundo, este viés é bem parecido com o anterior. A diferença se dá na abordagem: enquanto o groupthink é um viés que busca uma harmonia artificial entre os membros pela inibição de conflitos, o viés de endogrupo é aquele que homogeneíza as ideias de maneira espontânea.

Mas um grupo homogêneo não é uma coisa positiva? Bom, depende. Há excelentes benefícios quando um grupo está alinhado numa mesma missão. Porém, como no caso anterior, é algo negativo quando as concepções individuais são previamente condicionadas a uma mesma ideia.

Esse tipo de “enviesamento” não colabora com o surgimento de soluções criativas. É bom prestar atenção nisso para não ter um grupo homogêneo demais a ponto de prejudicar o chamado brainstorm (ou seja, a tempestade de ideias). Sobretudo em funções para as quais a criatividade é um diferencial.

Coesão do grupo

De qualquer forma, um time desunido e pouco coeso também é um sério problema. E as configurações virtuais acabam dificultando a coesão. Afinal, são menores as oportunidades para bate-papos curtos (mas importantes) ou reuniões casuais no refeitório.

Isso deve ser levado a sério, pois a coesão do grupo está positivamente relacionada ao desempenho da equipe. E, em geral, as pessoas costumam “dar um gás” por aqueles colegas de quem gostam mais.

Portanto, uma gestão remota que invista em integração social desde o início pode colher bons frutos no futuro. Os resultados na performance coletiva não tardarão a aparecer.

Como combater este viés?

  • Faça agendas regulares de reunião para minimizar os efeitos da distância física. Incentive todos a falar e compartilhar abertamente suas atividades e contribuições atuais, dentro e fora do trabalho.
  • Planeje o tempo para check-ins pessoais e profissionais. Informe-se ativamente sobre o bem-estar de seus colegas além das tarefas atuais de trabalho, da mesma forma que faria em um escritório normal.
  • Experimente abordagens criativas para promover a coesão e o desempenho da equipe em um ambiente seguro e positivo que ofereça oportunidades para trocas e experiências de união em ambientes virtuais.

6. Regra do Pico-Fim

Por fim, o último viés é o chamado Peak-End Effect (em português, “Efeito pico-fim”). Como o próprio nome diz, ele descreve os impactos que o momento mais intenso e o fim de um determinado evento têm sobre a avaliação/experiência de próximos eventos.

Há um artigo bem interessante sobre o tema. Recomendamos a visita caso deseje se aprofundar mais no assunto.

Em um contexto virtual, as impressões do tempo e do esforço de trabalho dos outros são geralmente mais seletivas e limitadas do que nas interações físicas. As reuniões são quase exclusivamente convocadas para discutir os resultados, mas raramente fornecem uma visão sobre o esforço e a metodologia usada para alcançá-los em casa.

Essa falta de visibilidade aumenta o risco de usar informações recentes isoladas (em vez de informações representativas) para avaliar o desempenho dos membros da equipe.

Como dissemos anteriormente, a origem desse enorme equívoco está em nossa tendência de memorizar o momento mais intenso de uma experiência, bem como seu final. Ele tem o potencial de distorcer as avaliações de desempenho dos membros da equipe de maneira rápida, subconsciente e injustificável.

Como combater este viés?

  • Considere as preferências de trabalho individuais. As configurações virtuais permitem maior flexibilidade nas horas de trabalho, permitindo que os membros da equipe trabalhem quando são mais eficazes. A disponibilidade não é um proxy de qualidade.
  • Planeje avaliações de desempenho virtuais curtas e regulares. Elas ajudam em check-ins e outras atualizações. Faça anotações para ser capaz de fornecer uma imagem equilibrada e bem-informada do tempo entre as sessões.
  • Mapeie sobre o caminho para um resultado específico e discuta o desempenho particularmente positivo e negativo imediatamente.

7. Não deixe os vieses prejudicarem sua gestão remota

Uma mudança de contexto quase sempre leva a mudanças no comportamento e, consequentemente, também na forma como trabalhamos. Os líderes são chamados a se adaptar às novas demandas situacionais e fornecer orientação e estabilidade.

Diversidade e inclusão

Nesse processo, os insights científicos sobre o julgamento humano e a tomada de decisões devem ser levados em consideração para garantir uma gestão remota mais eficaz.

Observar os vieses descritos e tomar as precauções listadas neste texto podem ajudar os líderes em seu dia a dia. Não apenas em ambientes de trabalho remotos, mas também em suas vidas pessoais.

Estamos num momento de crise, em que muitas dificuldades surgiram e ainda estão aqui. Porém, é em momentos como estes que temos a chance de rever alguns conceitos ultrapassados para atingir novos patamares.

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